20 agosto 2007

Em tempo de férias, falemos do paraíso

Através deste documentário podemos observar a realidade ditatorial em Cuba, o regime policial e censório de Fidel Castro, o encarceramento e a execução de opositores políticos, o futuro adiado para gerações de cubanos que tiveram o azar de nascer numa ilha-prisão de onde não podem sair e onde tudo lhes é negado. Cuba será talvez o expoente de um dos mais habituais erros de senso comum sobre o ideário marxista: aquele que considera a igualdade como a normalização da vida colectiva, onde todos vestem camisolas com a mesma cor, a mesma gola e a mesma tristeza. Essa é uma concepção totalitária da sociedade que nega a individualidade dos sujeitos sociais, aquilo que nos torna humanos.
Pelo meio, este documentário aborda os dois dogmas do regime: a educação e a saúde. Têm sido eles, no último meio século, a sustentar as teorias de compensação sobre Cuba e a generalidade dos regimes comunistas, menos a Coreia do Norte que também tem saúde e educação mas é mais ditadura do que as outras ditaduras com os mesmos pressupostos (tal como a RDA era «menos» ditadura do que a URSS). Em ideologias ditatoriais, as simbologias são tudo. Mas dizem os apoiantes de Cuba que a ditadura é o reverso dessas duas aquisições da «revolução». A ideia é fascinante, porque qualquer condenado numa prisão tem direito a saúde -- e, assim o queira, educação. Não deixa de ser uma bela metáfora.
Mas podemos perguntar que educação existe num regime opressivo, asfixiante, policial? Que livros são lidos? Que liberdade intelectual existe? O que pode ser ali discutido, escrito, debatido? É chocante, logo no começo do documentário, ver aquelas crianças arregimentadas pelo regime a papaguearem os «princípios da revolução» como se fossem os rios da Península Ibérica e a lerem livros de «história» onde Fidel é apresentado como «líder indiscutível». E aquelas crianças, aos seis, sete ou oito anos de idade, não sabem ainda que mais tarde terão provavelmente de deitar-se com alguns turistas para conseguirem um prato de comida na ilha que lhes foi imposta. Trágico.
Quanto à saúde, qualquer país europeu com um modelo inclusivo de Estado-providência sempre conseguiu melhores condições para os seus cidadãos sem recurso à pobreza e à ignomínia repressiva. De resto, pelo que se vê, os cubanos parecem preferir arriscar ser mortos por tubarões a caminho da Florida do que ficar com vacinas gratuitas em Cuba. Lanço por isso um repto: os comunistas que ainda restam nos outros países do mundo, a começar por Portugal, não aceitariam trocar de lugar com eles? Isso sim, seria coerência revolucionária.

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